Sobre o tema

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Territórios, Municípios, Redes e Parcerias: Mediação Intercultural e Intervenção Social

A Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria e o CICS.NOVA.IPLeiria convidam mediadores interculturais, educadores, profissionais da intervenção comunitária, investigadores, cientistas sociais, assistentes sociais, educadores sociais, animadores e outros interventores sociais, a debater o tema: Territórios, Municípios, Redes e Parcerias.

A Mediação Intercultural na Intervenção Social parte de uma escuta ativa e almeja uma prática dialogante entre os principais atores comunitários, sejam eles autarquias, associações de desenvolvimento local, Escolas, IPSS, serviços de saúde, entre outros, valorizando um trabalho comunitário “com o outro”, ao invés de uma intervenção comunitária apenas “para o outro”, promovendo assim uma parceria genuína e participativa na construção de comunidades, económica e socialmente inclusivas, promotoras da diversidade, sustentáveis e de justiça social. Este compromisso com a mediação intercultural assenta numa estratégia de envolvimento comunitário orientado para a capacidade de transformar os cidadãos em agentes de mudança.

Esta Conferência procurará refletir sobre a complexidade de redes e parcerias, desenvolvidas dentro de territórios, de municípios, que criam espaços de verdadeira convivência, ao invés de coexistência, que sejam facilitadores de iniciativas locais, promotoras de empowerment e acessibilidade a processos de participação comunitária, influenciando, assim, as políticas sociais a nível local, regional ou nacional.

O tema da conferência – “Territórios, Municípios, Redes e Parcerias: Mediação Intercultural e Intervenção Social” – abrir-se-á à participação de um vasto conjunto de profissionais e investigadores, possibilitando submissões de trabalhos relativos a investigações, projetos, iniciativas e/ou experiências.

No âmbito da ontologia, identificam-se, habitualmente, três coordenadas estruturantes dos grupos e organizações: o espaço, o tempo e a identidade.

Num mundo em grande transformação, onde a Sociedade em Rede (Castells, 2002) estende os seus tentáculos a partir de vários “topos” e no domínio de várias áreas, para trabalhar conjuntamente diversos interesses e objetivos comuns, não se pode inferir que o espaço e o tempo tenham colapsado. O que se observa é que, nas condições contemporâneas, estas variáveis passam por processos intensos de descontextualização, desestruturação, recontextualização e reorganização para trabalhar matérias de âmbito translocal. Destacam-se, nesta problemática, sem dúvida alguma, os processos tecnológicos, mediáticos e de comunicação, que estão no cerne destas reorganizações, e também como aceleradores e intensificadores de novas lógicas de reorganização do trabalho sobre um território que se reconfigura, amplia, modela, une, cresce, mas sempre de forma plástica e com escassas fronteiras físicas, também elas muito flexíveis.

A Sociedade em Rede, na linha de Manuel Castells (2002), assenta as sociabilidades numa dimensão virtual, só possível e muito potenciada pelas tecnologias de ponta ligadas à Comunicação. Essa nova e necessária organização social vai muito para além dos eixos espaciotemporais já bem comprimidos, para relembrar Marshall MacLuhan. Lemos jornais na Internet, mas podemos interagir, fazer comentários. Estamos ligados, mas também desconetados. O antropólogo argentino Néstor García Canclini (2004) descreve bem isso no seu livro Diferentes, Desiguais e Desconectados: Mapas da Interculturalidade, uma obra de natureza interdisciplinar que desenvolve análises de Bourdieu e de Geertz, ligando a sociologia, a antropologia, a comunicação e o trabalho social.

Nas diversas rotinas quotidianas, socializamos com sujeitos que podemos ou não conhecer. Esta Sociedade em Rede aproveita as potencialidades da comunicação que a Internet oferece para a partilha de sentimentos, ideias, conhecimentos, informações, conceitos, entre outros, mas também pode potenciar a elaboração e a colaboração em projetos, trabalhos conjuntos, intervenções sociais diversas (Lévy, 1999) em territórios que se tornam mais líquidos (Bauman, 2000).

O que acontece no trabalho em rede é uma descontextualização do “topos” das culturas, cada vez mais sedeadas no próprio megasujeito social e não no território ou na cultura nacionais. Desta heterotopia, heterogénese e fluidez cultural, recontextualizada e partilhada pelos próprios sujeitos, resulta uma desestabilização cultural e uma nova ecologia cognitiva, e novas identidades de natureza atópica. Mas, desta vez, a «desestruturação» do sentido é acompanhada pela sua «reestruturação» (Cuche, 2003, p. 108).

E essa reestruturação obriga à escuta, implicação e participação de todas e de todos. Implica, portanto, Mediação Intercultural que se faz de uma forma concertada, em rede, com todos os parceiros sociais e seus territórios. Nas palavras de Carlos Giménez (1997, como citado em Vieira & Araújo, 2018), a Mediação Intercultural corresponde a um

processo que contribui para melhorar a comunicação, a relação e a integração intercultural entre pessoas ou grupos presentes num território, e pertencentes a uma ou várias culturas. É um trabalho mediante uma intervenção que abarca três aspetos fundamentais: facilitar a comunicação; fomentar a coesão social; e promover a autonomia e a inserção social orientada para a construção de um novo marco comum de convivência. (p. 127)

A Mediação Comunitária surge, pois, como o corolário da mediação intercultural, uma vez que se trata de a aplicar a uma comunidade, real ou virtual, que habita determinado território ou que comunga dos mesmos interesses (Vieira & Araújo, 2018).

Nos dias 23 e 24 de novembro de 2023, discutir-se-ão experiências de trabalho e de organização em rede. Potencialidades, sinergias, mas também dificuldades e até insucessos, bem como processos de mediação comunitária/intercultural, serão debatidos em quatro mesas temáticas (para além das comunicações livres), durante dois dias, duas em cada dia:

- Territórios Municipais e Mediação Comunitária;
- Ação Social, Redes, Parcerias e Desenvolvimento Comunitário;
- Territorialização das Políticas Educativas: o caso dos TEIP;
- Redes no Ensino Superior.

Esperamos por si!


  • Referências bibliográficas
    • Bauman, Z. (2000). Modernidade líquida. Zahar Editores.
    • Canclini, N. (2004). Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad. Gedisa Editorial.
    • Castells, M. (2002). A era da informação: Economia, sociedade e cultura – Vol. I: A sociedade em rede. Fundação Calouste Gulbenkian.
    • Cuche, D. (2003). A noção de cultura em ciências sociais. Fim de Século.
    • Giménez, C. (1997). La naturaleza de la mediación intercultural. Migraciones, 2, 125-160. https://revistas.comillas.edu/index.php/revistamigraciones/article/view/4888
    • Lévy, P. (1999). Cibercultura. Instituto Piaget.
    • Vieira, R., & Araújo, N. (2018). Políticas municipais para a inclusão social. Da mediação intercultural à mediação comunitária: Mesa redonda/focus group com as Câmaras Municipais da Batalha, Leiria, Marinha Grande e Pombal. In R. Vieira, J. C. Marques, P. Silva, A. Vieira, & C. Margarido (Orgs.), Da mediação intercultural à mediação comunitária. Estar dentro e estar forma para mediar e intervir (pp. 127-173). Afrontamento.

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